ser mulher


Não sei até hoje o que é ser mulher. Só sei que sou. Acho até que fui definida como sendo antes mesmo de nascer, enquanto escolhiam meus prováveis nomes e montavam meu enxoval. O que é aquela boneca bebê que todas ganhávamos!? Não sei se o bebê era pior do que as barbies ou se algum deles era pior do que as mini-cozinhas e os kens eunucos. Só sei que esse treinamento para ser uma mulher começa cedo. E que eu gostava mais de gatos do que de princesas e preferia ataris a panelinhas.

Fiz balé. Tutus e sapatilhas! Fiz karatê. Quimono! Piruetas, socos e chutes. Mais tarde, ioga e krav maga. Namastê! Vida ativa sempre, desde cedo. Meu corpo é meu templo, certo? Tenho umas frescurites alimentares também. Sol? Pouco... vitamina D e olhe lá! Bom para a saúde com o efeito colateral de ser bom para a estética. Larguei o cigarro e resumi o álcool àquele vinho acompanhante de refeições. A ansiedade deixou. Pequenos pecados que todos cometemos. Ou alguém se diz apto a jogar a primeira pedra?

Você já se sentiu uma boneca inflável em relações sexuais!?! Onde estava o seu gozo? Colegas, devorem a ostra como gostam de ter seus falos devorados, aprendam algo sobre ritmo e quadril. “Prefere estar solteira?... sei... ela deve ter algum problema ou ser sapata”. Uma vez, fui cantada no mercado e o cara, ao perceber que eu estava acompanhada, pediu desculpas ao moço. Primeira mão na bunda? Eu estudava num colégio católico apostólico romano e foi no recreio, perto das quadras de esporte.

Saio sempre com óculos de sol e fones de ouvido de dia. À noite, saem os óculos. Tem gente que entende o recado. Indisponível para quaisquer abordagens. Tem gente que nem se ouvir um grito vaza. Ganho bebida em bares e em baladas. Querem me comer. Ganho puxadas de braço e de cabelo de alguns neandertais. Querem me comer. Trabalho e universidade também são lugares de assédio sexual. Vidas profissional e acadêmica... nem sei por onde começar. Encontram-se alguns porcos por aí. Muitos pode ser chamado de alguns?

Sou a mulher que nunca deveria ter me tornado. Sorrio alto, bebo e falo palavrão... mas não choro a toa. Maquiagem? Diariamente fica no quase zero. Vestidos? No calor são ótimos! Drinks? Mais uma dose, é claro que eu tô afim! Casar e ter filhos? Sou mesmo obrigada a pensar nisso? Beauvoir que me desculpe, mas se nasce mulher sim. E vive-se anos tentando agradar todo mundo, conforme o protocolo pede. Evitar embates, falar mais baixo, evitar aparecer demais. Naqueles momentos da vida em que se tem coragem suficiente para ir de encontro a isso, ouvimos críticas, somos repreendidas, questionadas.

 A verdade é que quando uma mulher se recusa à submissão, ela incomoda. É com a dureza que coisas são ditas e traumas ficam marcados que muitas se recolhem até sumirem de si mesmas. Mesmo o fato de escrever um simples texto de forma aberta já recebe reprovações – ah, como se expôs! A versão mais contestadora, que diz não e se posiciona... incomoda – e tem que prevalecer.

Então conhece-te a ti mesma. Seja quem tu és com toda sua força e intensidade - o mundo tentará te desestimular e puxar seu tapete, quer você atenda expectativas ou não. Faça suas escolhas pensando no que lhe deixa feliz, no que é bom para você - toda escolha é válida e é sua. 

Com Amor,
Ovelhinha