porque dançar
Já se sabe que
o sedentarismo é prejudicial à saúde. Então não importa como, mas mexa-se!
Uma das
formas mais divertidas de se mexer é dançar – taí um exercício bom pro corpo e
pra alma! E embora nos últimos anos aulas de danças fit tenham se proliferado
por aí e as opções incluam da zumba ao ballet, dança vai muito além da
estética.
Deixo minha
tradução livre de um texto que diz um pouco do que penso sobre o assunto. Para
quem lê em inglês, eis o original: Ballet-Themed Workouts: Why Take the Dancing Out of Dance?
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Por que tirar a dança da dança?
Hoje vi mais
um daqueles anúncios na barra lateral do meu navegador, tentando me vender mais
uma daquelas aulas de treino de balé-temático. Ele tinha todas as
características habituais: uma foto de uma jovem instrutora, magra, uma referência
a Cisne Negro, uma declaração sobre bundas tonificadas, e, claro, a promessa de
parecer (não mover-se, sentir-se, ou
ser) uma bailarina. Claro, este treino não conteria qualquer técnica de balé e,
certamente, nenhuma dança real.
Como
bailarina de longa data, fico desanimada com tais movimentos comerciais, que
conseguiram tirar a dança da dança. Ainda mais importante, vejo essa tendência
de treinos de barra como um sintoma
de uma cultura que ensina às pessoas – especialmente às mulheres – a ter um
relacionamento com seus corpos só externamente – como eles parecem aos outros –
ignorando a experiência interna do movimento.
Lembro-me
da afirmação do crítico de arte John Berger sobre os assuntos pinturas e vida:
"Os homens atuam e as mulheres
aparecem”. As mulheres não podem agir sem estar constantemente cientes de
sua aparência para um observador externo. Embora eu certamente não diria que os
treinamentos masculinos ignoram a aparência, podemos ver claramente que este
movimento de fitness focado no feminino – especificamente reivindicando fazer
alguém parecer uma bailarina sem agir como uma – desempenha a noção de que os
corpos das mulheres importam apenas pela forma, não pela função.
Às vezes,
fico realmente surpresa como a maioria das pessoas tem uma visão tão limitada
do objetivo do movimento e dos corpos. Quando digo às pessoas que sou uma
estudante de dança, ou que danço 25 horas por semana, uma resposta comum é:
"Uau, isso deve ser realmente um bom
exercício."
Exercício –
Tenho que me segurar para não rir. Como bailarinos, passamos anos
internalizando as nuances da técnica, aprendendo coreografias, nos engajando em
processos criativos, aprimorando a arte, e aprendendo a nos tornar destemidos e
emocionalmente expostos no palco.
Dizer que
dança é bom como exercício é como dizer que programação de computador é bom
para a prática de habilidades de digitação: claro, isso acontece, mas não é o
ponto principal.
Eu adoraria
que mais pessoas apreciassem a arte do profissional da dança, mas tão
importante quanto é o papel que a dança pode ter na vida dos não-profissionais
que nem sequer se consideram bailarinos.
A dança tem sido usada ao longo da história como uma forma de ligação cultural,
experimentação religiosa, cortejo, narração de histórias e diversão. Então, por
que devemos apagar tudo isso de nossas vidas para nos concentrar exclusivamente
em bundas malhadas?
Na verdade,
sou um pouco cética em relação a todo o conceito de exercício como nós atualmente o compreendemos, o ato de mover o
corpo isolado do resto de nossas experiências de vida. O movimento está
confinado a uma hora programada do dia, escolhido especificamente para um fim
estético particular, e divorciado, tanto quanto possível, de qualquer atividade
intelectual ou emocional. Talvez seja um sintoma da dualidade cartesiana
corpo-mente à qual continuamos nos mantendo agarrados: você pode ser um corpo
por uma hora e, em seguida, voltar a ser uma mente para o resto da sua vida,
mas os dois não devem se sobrepor.
Muito está
em jogo com a nossa concepção de corpo e movimento. Muito tem sido dito sobre
como ideais de beleza, tais como os vendidos nestes anúncios de fitness,
impactam a autoestima e a saúde mental – e com razão: estatísticas publicadas
pela Associação Nacional de Anorexia Nervosa e Distúrbios Associados afirmam
que 91% das universitárias pesquisadas tinham tentado fazer dieta e 35% dos seguidores de dietas normais
eventualmente se envolvem em dietas patológicas.
Entretanto,
até movimentos populares de imagem corporal (pensem na campanha Real Beleza de Dove) reforçam a idéia de
compreender e apreciar o corpo externamente, dizendo às mulheres que elas
realmente parecem lindas. Mas e se
começássemos a apreciar os nossos corpos para fazer, sentir e ser, em vez de
apenas parecer?
O
treinamento em dança nem sempre está associado à positividade corporal, mas
mostra muitas maneiras de entender e apreciar o seu corpo que não estão
relacionadas à aparência. Amo meu corpo porque ele me permite voar por meio de
20 minutos de saltos intensos. Amo meu corpo por causa da gama de
possibilidades de improvisação que ele desbloqueia. Amo meu corpo por causa do
prazer que sinto ao enviá-lo a uma coreografia contemporânea fluida. Amo meu
corpo, pois ele me permite levantar de manhã e caminhar, ver, ouvir e respirar.
Se você
quer fazer aulas fitness de treinos de barra, vá em frente. Mas confie em mim,
se você se der a chance de realmente experimentar internamente o movimento em
seu corpo fora dos 60 minutos de levantamento de pernas... vale a pena – quer
se trate de uma aula de balé iniciante, dançar nua em seu quarto, ou apenas
tirar um momento para observar a sensação de seus músculos correndo através de
seus ossos, sua pele acariciando seus músculos enquanto você rola para fora da
cama de manhã.
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Dance & The City - photo by HumannPhotoArt |