gente que a arte me trouxe


Arte é um conceito bem amplo, não acha? Dentre as artes, minha atenção sempre esteve mais voltada para as danças. É difícil não se interessar por algo que entrou na nossa vida ainda na infância, né? Risos. O papel de praticante, observadora e estudiosa (delas, as danças) trouxe várias pessoas para a minha vida ao longo das décadas. As amizades e as inspirações não foram poucas, as decepções idem. Encontros e desencontros.

No papel de produtora (de danças), continuei encontrando gente que, de uma forma ou de outra, mudou minha vida. Não lembro qual foi a primeira (dessas gentes) a cruzar meu caminho, mas ela dançava. Provavelmente era isso. O que há em comum dentre todas elas é que com cada uma houve uma troca cultural e pessoal distinta. Aprendizados. Pessoas são como marcas, cada uma deixa sua impressão.

Em meu último trabalho por trás dos holofotes (na produção), no meio de tantas nacionalidades, duas mulheres, uma israelense e uma espanhola, deixaram impressões mais fortes. Orit Succary e Victoria Miranda estiveram no Brasil para participar do Movimento Internacional de Dança, em Brasília, e do festival Vivadança, em Salvador.


Orit tem quase a minha idade e duas filhas. Dois dias antes de (ela) embarcar para o Brasil, uma de suas filhas entrou para o exército lá em Israel. Foi uma troca interessante e enriquecedora conviver e conversar com ela. Orit me lembrou da ancestralidade e da naturalidade das danças. De como elas são orgânicas, familiares. De como fazem parte das culturas, dos povos. As danças estão entranhadas no DNA da humanidade.

A israelense ministrou uma Master Class cheia de energia boa em Brasília e Salvador. Surpreendente – é o que posso dizer sobre essa aula de Orit. Não é exagero dizer que a gente sai da aula transformada, com a visão ampliada – enquanto pessoa e enquanto bailarina, intérprete. Sua aula é beber da fonte, é passar por culturas antigas. China, Paquistão, Rajastão, Turquia, Iemen, Irã, Síria, Israel, Marrocos... Danças e ritmos típicos, culturas que se encontram e traçam uma linha – The White Line.

E teve Victoria Miranda... Uau! Que mulher! Que vigor físico! Que artista! Em termos estritamente técnicos, dançantes... movimentos datados. Porém, composição de cena nova, atual, contemporânea. Victoria me trouxe ao cotidiano, ao contemporâneo, ao diário. O TOC encenado me inspirou a encenar a depressão, o pânico. O vigor físico me mandou de volta aos treinos (técnicos e físicos). Energia transformada em processo criativo.

A espanhola foi uma inspiração de impacto. Além de ministrar um workshop, Victoria apresentou I Leave The Lights On e That’s Why I’m Here Today no Planalto Central e na Bahia. (estou dando os nomes pra você procurar no google, no youtube... 😉 )  Dança-teatro. Intervenção urbana. Resistência física. Para coroar, Victoria é profissionalismo e simpatia acima de qualquer suspeita. Como não se apaixonar e se inspirar?


No meio de tantas cias brasileiras, europeias e latino-americanas, tendências e experimentações em dança contemporânea... uma judia e uma espanhola. Encontros que acontecem nesse tipo de trabalho sempre me lembram que o corpo tem limitações. A mente e a alma, não. Obrigada vida, por colocar essa gente no meu caminho. Diversidade e ensinamentos. Nada é impeditivo de nada. Basta adaptar. Criar. Inovar. Experimentar. Repaginar. 😉



Leia também: