inspirado em chefes reais
Navi não
fora o primeiro de seu nome. O nome e o comportamento são algo comum até. Achou
que podia falar comigo como quisesse, usando o tom de voz que quisesse. Pareceu
achar que podia me tratar como um marido abusivo trata a mulher ou como pais
abusivos tratam os filhos. Tenho personalidade forte, esqueceu? Finesse não é
algo financeiro e, definitivamente, dinheiro não compra classe e educação. Ei,
não seja egocêntrico a ponto de achar que estou falando de você. Quem dera você
fosse o único, meu caro. Quem dera...
O conhecia
antes de conhecê-lo. Aquele tipo antiquado, com mulher e filhos dependentes e
submissos, que manda em casa a partir do controle financeiro, exerce alguma
posição de poder profissionalmente... Aquele tipo que acha que pode falar com
todo mundo como se estivesse falando com suas
negas.
👆 Quem
nunca teve um desses em sua vida? Risos. Tipo datado que
segue atualíssimo. Risos.
As pessoas
aceitam muita coisa nessa vida porque precisam pagar contas. Se tiverem filhos
pequenos, aceitam ainda mais. E os canalhas... ah, os canalhas se aproveitam
disso. A realidade é que em muitas áreas estão pagando o que pagavam quando eu era
recém formada. A competição aumentou, os jobs e as vagas escassearam, os
salários não aumentaram ou até mesmo despencaram. Então as pessoas engolem muita
coisa.
O mercado
não está dos melhores e tem um monte de gente querendo trabalhar. Infelizmente,
tem um monte de gente que, por necessidade, vai se sujeitar a seres das
cavernas a troco de alguns dinheiros na conta. Eu prefiro lidar com a instabilidade
dos freelas. Não tenho medo de trabalhar, mas não sou
obrigada a aturar desrespeito e voz alta – e ninguém deveria ser.
Pagam hoje salários e cachês iguais ou menores aos que recebíamos
em 2004. É ridículo. Os custos até para cagar aumentaram (pesquisem a inflação
do papel higiênico e da água!)! Quem não for herdeiro nem tiver ganho na mega sena
tem que rir – do contrário, a alternativa é cortar os pulsos. Durkheim estava
certíssimo quando associava aumento no número de suicídios a crises econômicas,
a situações de anomia social.
Outro dia vi um anúncio de estágio com duração
de 3 meses, em gastronomia. O pagamento era em cursos da própria instituição
que oferecia o estágio. Trabalhe um
período de graça, faça cursos no outro período de graça...
Escambo. Século 21. Vaga em publicidade: mídias sociais, redação, photoshop,
blábláblá. Bilíngue. Funções de todos os departamentos de uma agência. E
bilíngue! Salário? R$ 1600.
Ou seja... as pessoas engolem muita coisa,
muitos absurdos. Quem nunca presenciou ou foi vítima de assédio moral que atire
a primeira pedra.
Conheçam
seus deveres – e cumpram com eles. Igualmente, conheçam seus direitos – e
exijam que sejam cumpridos. Saibam a qualidade do trabalho que oferecem. É
loucura querer gozar de seus direitos e receber um pagamento de acordo? Se
é arrogância saber qual seu valor (enquanto pessoa e profissional) e exigir ser
respeitada... Arrogante o sejamos, amém! 😉 Loucura é aceitar passivamente. Sejam honestas e leais, mas também exijam
respeito, tratamento educado e cordial, polido.
Quando um
funcionário sai da empresa reclamando de alguma coisa, pode ser ele o problema.
Quando vários saem reclamando da mesma coisa... é você, empregador, o problema.
Então fica a dica. O poder verdadeiro não vem pelo medo, pela força, pela
ameaça. O que você consegue deixando as pessoas ansiosas, estressadas, com
medo? O máximo que conseguirá é fazê-las cumprir prazos. Não costuma brotar genialidade
de ambientes dominados pela necessidade... não brota sequer lealdade. Não se
tem trabalho ótimo com gente sobrecarregada, sufocada, amedrontada. Não se tem
equipe harmônica, coesa, unida, comprometida com a empresa...
E, para não
dizer que não falei das flores... Que dizer de chefes que fazem comentários de
índole duvidosa sobre as mulheres que trabalham conosco? Da ex-funcionária
louca à ilustradora gostosa ou cliente na TPM, uma hora um desses comentários
chegará na pessoa certa? Deselegantes, deveriam ter mais cuidado no trato com as
pessoas. Chefe não é obrigado a dar tratamento de vó ou de terapeuta a ninguém.
Chefe não é melhor amigo. Mas respeito e educação... respeito e educação no
trato com as pessoas é o mínimo. Polidez. Discrição é um plus.
Ogros
continuam sendo ogros, ainda que usem roupa social e tenham cabelos brancos. A
sensação de se livrar de chefias indigestas é de alívio. Nada como sair de um
ambiente contaminado, cheio de ácaros. Se funcionários devem seguir regras e
ter capacitações adequadas, chefes deviam, no mínimo, fazer cursos de gestão de
pessoal. Gerir bem uma equipe aumenta inclusive a produtividade, viu senhores
mofados 😉
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O mercado
de trabalho no Brasil transborda absurdos.