precisamos falar sobre Bolsonaro?


Estão dizendo que ele mitou. Tudo bem. O médico manda não contrariar. Já vi até revista dizendo que aquele outro passou como um trator pelos entrevistadores. Sabatinas na Jovem Pan, Roda Viva, Globo News... Começaram os debates... A campanha mais curta e com menos verba tem feito os presidenciáveis transitarem nas mídias sempre que possível. Quem não aparece, não é conhecido. E desconhecidos não ganham votos.

O despreparo é geral. "Você sabia que Jesus foi um refugiado?". Fremdschämen! Não só os candidatos, mas também os jornalistas tem dado vergonha alheia. Gente que ganha bem e faz esse tipo de pergunta na televisão para um candidato à presidência. A imprensa brasileira respira por aparelhos. Enquanto há quem ri dos absurdos que o mito fala sobre escravidão, eu rio de nervoso. Tragicômico.

Estamos fudidos. Já viu os candidatos? A garota do DCE voltou pro escanteio por causa de um condenado em segunda instância. Outro grande demagogo embolorado. Mais um cabra machista sem vergonha. Um homem de negócios que parece saber o que diz, mas que, como os outros, não sabe lá tanto assim do que fala. Uma figura exótica circense. Todos presos nos anos 80. E os únicos que falam coisa com coisa tem voz de ansiolítico e jeito de vovozinha. O militar é mesmo o maior de nossos problemas?

Tem que rir, mas é de nervoso... pois pesquisas dizem que tá foda! A concorrência pelo nível mais baixo está concorrida. Pleonasmo. Eu sei. Mas é isso aí. A concorrência está concorrida. E o titanic vai afundando, afundando... Tá foda. Pergunte a qualquer um. Tá foda.  Constrangedor, para dizer o mínimo. Respostas rasas cheias de fuga ao tema para perguntas escorregadias ou descabidas. O nível da nossa imprensa talvez esteja tão baixo quanto a qualidade dos candidatos e da política brasileira.

Com o andar dos debates e propagandas eleitorais, saberemos quem dividirá o segundo turno. No fundo, as eleições serão sobre a política tradicional e a capacidade de mobilização das redes. Os meios tradicionais ainda fazem diferença num país deseducado? Não se pode subestimar, num país pobre, sem infraestrutura e sem educação, o peso dos instrumentos tradicionais de se fazer campanha política?... 😔

Façam suas apostas. As cartas estão na mesa. Dados lançados, o tabuleiro está mais desenhado. Em quem você apostaria suas fichas? Ver e ouvir todos ajuda. Observar cenários. Cartada de mestre ou tiro no pé, as escolhas dos vices definiram muita coisa. 

De qualquer forma, não se pode subestimar um candidato que tenha em torno de 20% de intenções de voto. Trump se elegeu por descuido de formadores de opinião que achavam sua candidatura um espetáculo e o trataram como piada. Talvez o ostracismo não seja a melhor escolha. Se deixarmos de falar nela, a ameaça deixa de existir? Bolsonaros são como gremlins. Não bastasse infestarem o poder legislativo, eles agora tem planos executivos.

Nas últimas semanas, o líder do clã esteve na televisão. Entre sabatinas e debates, sua versão da história só não é mais tragicômica do que um cidadão como ele ser um dos presidenciáveis com chances de vitória. Trump lá, dá cá. Uma chapa que fala da indolência do índio e da malandragem do africano, assim como dos salários mais baixos para quem engravida, não pode dar certo. Não em 2018. Se der, significa que o país deu muito errado e aí é melhor resetar e recomeçar.

O cidadão defende valores do início do século passado que deviam ficar perdidos na história. Esquecidos não, pois se alguém como ele tem eleitores, é porque nos esquecemos do que estes valores representam. Se pisoteamos o artigo 5º da constituição, é porque nos esquecemos da nossa própria história.

Não teremos um novo país após as eleições – este é um processo a longo prazo, mas cuja construção começa agora. Então escolha muito bem em quem votar. Seja pragmático e use estratégia. Qual candidato você quer? O candidato que eu quero responde. Ele não foge nem desvia quando é questionado sobre algum tema que lhe é espinhoso. E ele não coloca ideologia e opinião pessoal acima de nação, de bem público, de bem comum, da coletividade.


---
NOTA: esse texto é anterior à facada e ao crescimento de Bolsonaro nas pesquisas e sua consequente ida para o segundo turno, como pólo anti PT. Não fomos espertos. E os meios tradicionais não fizeram diferença frente aos novos meios (whatsapp em particular).


you don’t change the man to fit the narrative, you change the narrative to fit the man” – filme Our Brand is Crisis - "Você não muda o homem para o encaixar na narrativa, você muda a narrativa para se adequar ao homem"


Leia também:

(a warning for brazilian leftists and the 2018 elections 😉 )
Você é feminista? Então leia 👉 Winter is coming 
"Observe bem esse brasileiro do espelho e reflita sobre a responsabilidade do seu voto, pelo seu futuro e pelo futuro das próximas gerações deste país"