totalitários, autoritários e fascistas
Eu sei que todo mundo virou
fascista nas últimas eleições, mas repita comigo: nem todo totalitarismo é fascismo,
embora haja autoritarismo de sobra em ambos. A não-democracia não necessariamente é fascista, capisce!? 😉 Vamos
estudar um pouco de história? 📚 O que caracteriza os governos não-democráticos é o poder ser investido
numa pessoa ou partido, que pretende exercê-lo como se dele fosse proprietário.
Identificado com uma pessoa ou
grupo, o poder personalizado é um poder de
fato e não de direito, pois depende
do prestígio e da força de quem o possui. Este poder precisa estar sempre
vigiando e controlando o surgimento de divergências que poderão abalá-lo. Ele
busca a uniformização de crenças, opiniões e costumes, evitando o pensamento
divergente e destruindo oposições.
Surge aí o risco do
totalitarismo, quando o poder é incorporado ao partido, podendo ser
representado por um homem todo-poderoso. O Egocrata faz apagar a distinção
entre a esfera do Estado e a da sociedade civil: o partido, onipresente, se
incumbe de difundir a ideologia dominante por todos os setores de atividades, a
todos unificando, o que permite a reprodução das relações sociais conforme o
modelo geral.
Os totalitarismos têm em comum um
posicionamento contra o liberalismo, que aparece na crítica à liberdade de
corrente do individualismo, geradora de conflitos que enfraquecem o Estado.
Diante da inoperância da democracia liberal para resolver a crise, surgem as
alternativas que visam, sobretudo, ao fortalecimento do Estado.
As 1ªs adesões ao nazismo e ao
fascismo sugerem uma tendência anticapitalista que aparenta, no início, ter um
caráter revolucionário. A aliança com os setores mais conservadores, ligados à
grande indústria monopolista, aos bancos e às finanças em geral, é que pode
explicar o fato de esses partidos terem chegado ao poder por via legal.
É interessante notar que, apesar
de o verdadeiro poder vir da oligarquia e de nesses movimentos se encontrarem
adeptos de todas as camadas sociais, inclusive proletários, é da classe média
que saem os elementos que formarão os principais quadros. A adesão
pequeno-burquesa talvez se explique pela constante ameaça de proletarização em
momento de crise.
Tanto Hitler, quanto Mussolini,
queriam despertar convicções, não debater idéias. Os princípios não são tão
importantes para eles quanto o envolvimento no sistema e a adesão a ele. A
preponderância desse antiintelectualismo fará descambar a ação para o fanatismo
e a violência. Deriva daí uma visão irracionalista do mundo, calcada na
promessa de uma sociedade melhor.
Ambos os movimentos se acham
orientados por um nacionalismo exacerbado, nascido do desejo de tornar a nação
forte e grande, auto-suficiente, com um exército poderoso. A concepção
nacionalista tem um caráter idealista e critica a interpretação materialista da
historia, típica do marxismo. A luta de classes deve ser substituída pela
solidariedade nacional: só uma nação unida será forte o suficiente parar
substituir o caos.
Mussolini, em Opera Omnia, não
ocultava estar se valendo do mito da pátria: “criamos o nosso mito. O mito é uma fé, é uma paixão. Não é preciso que
seja uma realidade, O nosso mito é a nação, o nosso mito é a grandeza da nação”.
O nacionalismo alemão adquire nuances diferentes, como o pangermanismo, que
justificava a pregação do espaço vital, segundo a qual era preciso integrar à
Alemanha regiões como a Áustria, Dantzig, Polônia e Ucrânia.
A crítica ao liberalismo e à sua
concepção individualista de homem, a hostilidade aos princípios da democracia,
a valorização das elites e do papel do mais forte, levam à exaltação do Estado.
É a idéia de Estado, como suprema e mais perfeita realidade, a própria encarnação
do espírito objetivo, representativa da totalidade dos interesses dos
indivíduos. É bem verdade que esse estatismo é mais violento em Mussolini, que
considera o Estado um fim em si, do que em Hitler, para o qual era apenas um
instrumento, pois todo o prestígio deve ser reservado ao Volk (povo).
Não se trata do mero
autoritarismo, pois o totalitarismo o ultrapassa: o Estado coincide com a
totalidade da vida humana, ou seja, a vida familiar, econômica, intelectual, lazer, nada restando de propriamente privado e autônomo. Em todos os setores,
cuida-se de difundir a ideologia oficial.
Não há mais pluralismo partidário
– a 1ª das molas que instauram o poder é o partido, que deve ser rigidamente
organizado e burocratizado. É o partido que promove a identificação entre o
poder e o povo, processando a homogeneização do campo social. O partido forma
organismos de massas (sindicatos, associações culturais e de trabalhadores,
organizações de jovens, de mulheres, círculos de escritores, de artistas, de
cientistas). Em cada organismo, o partido refaz a imagem de uma identidade
social comum e elimina as possibilidades de divergências e oposição; estimula a
arregimentação dos indivíduos para o partido; exalta a disciplina e mistifica a
figura do chefe.
Aos poucos deixa de existir a
independência dos poderes legislativo e judiciário, que passam a ficar
subordinados ao executivo, e a direção da economia passa a se encontrar
centralizada. Concentram-se também os meios de propaganda, a fim de veicular a
ideologia oficial dirigida ao homem-massa,
forjando convicções inabaláveis. Isso garante uma forte base de apoio popular.
Ao lado dessa exaltação, há também controle das informações, não só de
notícias, mas também da produção artística e cultural. (👉 companheiro Stalin também se
situa por aqui 😉)
Os países latino-americanos têm
uma longa tradição de governos ditatoriais. Os regimes chamados autoritários
não devem ser confundidos com os totalitários. Ambos cerceiam as liberdades
individuais em nome da segurança nacional, usam formas de propaganda política,
exercem a censura e têm um aparelho repressivo.
Nos regimes autoritários,
contudo, não há uma ideologia de base que serve para a construção de uma nova
sociedade e não há uma mobilização popular que lhes dê suporte. Ao contrario,
ao invés da doutrinação política e do incentivo ao engajamento ativista, há uma
despolitização que leva à apatia política. O clima de repressão violenta gera o
medo, que desestimula a ação política efetiva. Permanece, sempre que possível,
uma aparência de democracia: pode haver vários partidos e, mesmo que a oposição
efetiva desapareça, ela existe como oposição formal. E o partido do governo é
um mero apêndice do poder executivo.
O governo autoritário pode também
utilizar os militares na burocracia estatal, e a elite econômica tem, nos
postos chaves, oficias das forças armadas. Os militares saem da caserna para se
tornarem a instituição política mais importante da nação.
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