as eleições das fake news


Estas foram as eleições das fake news e, consequentemente, dos crimes contra a honra. Histerias coletivas à parte, calúnia é crime previsto no artigo 138 do código penal. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime pode ter pena de detenção de seis meses a dois anos, além de multa. Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.

Ao parágrafo anterior adicionem-se os artigos 139 e 140, que falam de difamação e injúria. E temos alguns crimes pelos quais as pessoas que gostam de espalhar boatos podem reponder. Você que passou o período eleitoral adjetivando os outros... Cuidado! Internet parece terra de ninguém, mas não é. Processos tem sido movidos e causas ganhas em favor de quem tem a reputação manchada por fofocas infundadas. Calúnias virtuais não estão mais circulando impunes.

Ou estão? 😒😣😶

O mundo real é um pouco mais complicado e a sociedade está permeada dessa prática vil – em 2018 ela veio na forma de fake news com ideologias diferentes e assuntos variados, relacionados a política, religião, sexualidade, governos, relacionamentos, entre tantos outros. A velocidade de circulação é maior graças à mobilidade das comunicações – o advento do smartphone e das redes sociais possibilitou que as notícias, sejam elas verdadeiras ou falsas, alcancem mais gente e em menos tempo.




As fofocas, boatos, mentirinhas... elas sempre existiram e estão em todos os lugares. A diferença é que todos, inclusive gente de má índole, tiveram a voz amplificada. Nesse contexto, fica difícil controlar a circulação e, portanto, deveríamos ter um pouco mais de responsabilidade no uso de redes sociais e pesquisar antes de acreditar ou encaminhar qualquer coisa. Deveríamos conjugar sempre os verbos questionar e pensar (sobre tudo!). Infelizmente, o devir não se confirma e é comum a proliferação de inverdades e o enterro de reputações.

Lembram que em 2014 uma mulher foi espancada após boatos em rede social e morreu? Aconteceu no Guarujá. Diziam que ela teria sequestrado crianças e praticado bruxaria. Não havia provas de que ela tivesse praticado algum crime e a discussão pautou-se sobre quem era ela. Importa discutir quem ela era? Linchamentos e similares não podem ser justificados sob hipótese alguma, independente de quem seja a vítima. Mesmo que houvesse pena de morte no Brasil (e não há!) o responsável pela sua aplicação seria o Estado.

O responsável pela aplicação da justiça é o Estado. Qualquer coisa diferente disso é voltar ao estado de natureza de Hobbes – a situação dos homens deixados a si próprios é de anarquia, geradora de insegurança, angústia e medo. Os interesses egoístas predominam e o homem se torna o lobo do próprio homem (“homo homini lúpus”). As disputas geram a guerra de todos contra todos (“bellum omnium contra omnes”) e as conseqüências desse estado de coisas é o prejuízo para a indústria, a navegação, a ciência e o conforto dos homens.

Hoje falaríamos em prejuízos para a indústria, o sistema financeiro, os transportes, ciência e tecnologia... Século XXI e ainda existem seres humanos que vivem no estado de natureza de Hobbes. Se acham acima das leis, não respeitam nenhuma ordem social e política, tratam seus semelhantes como nada. Assistimos à sua alimentação pelo boato e pelo exemplo neste último pleito.

A artilharia esteve em todas as esquinas. Entre verdades maquiadas, inventadas e reconstruídas, o repertório de ilusionismos circulou livremente. Em nosso cenário de ignorância nacional, não surpreende que as fake news sejam bem sucedidas no seu propósito disseminador de desinformação e preconceitos. Elas contam com a ajuda dos meios digitais e de gente sem conhecimento para opinar e que, mesmo assim, opina – e o faz se baseando em juízos de valor, em achismos, sem se aprofundar sobre o que discute.

Dizer a verdade, para muita gente, é ficção (ou arrogância). A verdade, para muita gente, soa como ficção (ou como arrogância). Ao mesmo tempo, inúmeras ficções apresentam-se como verdadeiras. Antes de falar mal de algo ou alguém (on e offline), pare e pense. Antes de apoiar, também. Esse maniqueísmo de bem e mal deveria entrar em desuso. A falta dele, que é não ter posicionamento crítico algum, também.

Já reparou que qualquer questão minimamente crítica inicia uma avalanche de comentários agressivos de gente cheia de razão? Não importam os argumentos pífios, o que vale é vencer e ao vencedor as batatas apodrecidas? Aqui, todos estão no mesmo barco... Não perceberam ainda? 😔😂

Fugindo das postagens agressivas, o melhor que se pode fazer é torcer para que haja um bom governo, amém! E que conte com o auxílio do renovado congresso eleito para colocar o país no rumo do crescimento econômico novamente. Sem uma economia saudável, nada mais vai bem. Boa sorte, com ou sem fake news. Que façam o melhor governo que lhes seja possível... 😶🙊


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